sábado, 20 de novembro de 2010

Relato de Aula de História numa turma de Ensino Fundamental I

Introdução
A perspectiva mais ampla deste relato é apresentar a experiência em sala de aula vivenciada por mim através da condução de uma aula no 5° ano Ensino Fundamental I ( 4° série) no município de Paulista. A escolha dessa escola deu-se pela proximidade com uma das professoras e sua disponibilidade em ceder uma aula para realização da atividade.  A aula teve como título “Ilha das Flores – Diferenças e Desigualdades” , seu foco principal foi discutir  os conceitos de diferença e desigualdade e suas relações com o dinheiro a partir do curta metragem Ilha das Flores de Jorge Furtado.

Procedimentos
            A professora cedeu-me a condução da aula, mas ficou presente o tempo todo de realização. Estavam presentes na turma 18 crianças. Ao entrar na sala apresentei-me e contei que estava ali para discutir com eles/as algumas coisas de nossa sociedade e que faríamos isso a partir de um filme. As crianças estiveram solicitas a participar. Pedi a eles/as que me ajudassem dizendo o que entendiam sobre: diferença, desigualdade e pra quê serve o dinheiro.          
            As conceituações giraram em torno dos antônimos das palavras apresentadas: diferente é o que não é igual, é quando é tudo diferente um do outro, o que não se  parece; desigualdade foi entendida como “desigual”e por isso também disseram o que não é igual, que tem menos que o outro; sobre pra que serve o dinheiro as crianças citaram que servia pra comprar e trocar por coisas e citaram vários itens de consumo.
             Listei no quadro branco o que disseram por bloco de palavra. Em seguida  disse que assistiríamos um vídeo e que trabalharíamos mais com essas palavras posteriormente.  Pedi que as crianças prestassem bem atenção ao que era dito e visto no vídeo (vale dizer que foi escolhida essa  escola também pela disponibilidade de TV e DVD que a professora me disse que a escola tinha). Disse que o autor chamava-se Jorge Furtado e que era roteirista e diretor brasileiro, que trabalhava na rede globo e citei algumas obras dele.
            As crianças assistiram ao vídeo.  Ao término do vídeo, perguntei o que acharam do filme. Muitas crianças disseram que foi “legal”, outra disse ser triste, outra  muito rápido... Aí senti um ponto que poderia atrapalhar no entendimento e perguntei ao que se referia o vídeo. “O filme fala do que fazemos com o dinheiro, tia”; “ Fala dos bichos e da gente”; “ Da sujeira dos porcos e do lixo”; “das pessoas que tem dinheiro e umas pobres que não tem dinheiro”.Em seguida pedi que se dividissem em três grupos, nesse momento a professora tomou a frente e dividiu a classe, para evitar a bagunça segundo ela. Sobre questões disciplinares, não tive grandes problemas, pois a professora ficou a todo momento na sala e a qualquer conversa levantada entre as crianças chamava a atenção e pedia que respeitassem a “tia” que estava visitando a classe.
            Com os grupos divididos,  distribui tarjetas com os nomes: dinheiro, desigualdade e diferença” e solicitei que cada grupo retomasse o que tava escrito no quadro sobre a sua tarjeta e discutisse o que aquela palavra queria dizer e se alguma cena do filme poderia ser usada como exemplo. Distribuí uma cartolina para cada grupo e pedi que escrevessem  o que aquela palavra queria dizer na cartolina.  Os grupos apresentaram-se um a um utilizando os cartazes, as crianças trouxeram cenas do filme pra falar do conceito. Depois, eu comecei a dialogar sobre o que apresentaram e acabei fazendo uma pequena exposição sobre como as diferenças são transformadas em desigualdade no nosso país e como isso se relaciona com a posse do dinheiro.  Estava previsto no plano de aula a solicitação como "tarefa de casa" que as crianças fizessem uma redação para que as crianças expressassem individualmente as impressões sobre o filme e apontassem uma solução para minimizar as desigualdades no Brasil. Porém, como não teríamos um outro encontro ficava inviável esse pedido. Mas em conversa com a professora que acompanhou toda aula, ela disse que seria interessante ficar com essa produção e considerá-la como umas das produções avaliativas da 4° unidade. Assim, solicitei as crianças e informei que as redações deveriam ser entregues a professora. Infelizemente por ser uma atividade pontual, não tive retorno dessas produções.

Conclusão
            No momento em que expus, as crianças ficaram muito passivas, não dialogaram como eu esperava que acontecesse. O tempo total estimado para a aula que foi de 50 minutos inicialmente, acabou se estendendo pra 1'35 hs. Analiso que foi preciso mais tempo, por falta de contato das crianças com esse tipo de atividade, além disso, os conceitos de diferença e desigualdade da maneira como eu os quis tratar não eram conhecidos pelas crianças.  Embora tenham trabalhado em grupo e trazido suas questões, foi um trabalho limitado pelo que estimei previamente como questões importantes de estruturação da realidade. Creio que os aspectos da desigualdade social ficaram bem demarcados para elas após eu ter exposto.  Pois só com o vídeo,não ficou tão claro. Já que os conceitos são expostos rapidamente no curta-metragem, e muitas palavras as crianças não conheciam e eram importante conhecê-las para entender a mensagem do vídeo.
            Nesse sentido creio que um trabalho com dicionário seria necessário, mas pela limitação do tempo e não programação não tivemos como lançar mão. Porém,  houve um “improviso” da professora que procurou algumas palavras que as crianças não entenderam e as “traduziu” no quadro.

            Sobre  o cultivo pra venda e geração de lucro foi algo que as crianças disseram já ter estudado, sobre plantações. Por outro lado, a questão da pobreza mostrada no vídeo foi algo que mobilizou as crianças. Muitas falaram conhecer pessoas que não tem o que comer e catam do lixo pra se alimentar. Disseram também ter gente com  muito dinheiro e que poderiam ajudar quem não tem, mas não fazem.
            Como lição final fica que partir de situações concretas como as mostradas no vídeo  para abordar esses temas facilita e condiz mais com a fase atual das crianças que ali estavam. Porém, esse vídeo por apresentar conceitos que as crianças não conheciam, tomou mais tempo para falar sobre eles. O vídeo também é muito rápido e trás elementos muito ricos, que não pude explorar devido a limitação de tempo e conhecimentos prévios das crianças. Com isso não descarto o trabalho que fiz, mas por não conhecer a turma e saber sobre “o que já sabiam” dificultou. Dos objetivos propostos: Houve questionamento sobre a realidade das pessoas mostradas no vídeo; as diferenças entre humanos e animais e suas consequências também foram trazidas; O identificar elementos estruturantes  da realidade brasileira é que ficou comprometido, mas foi abordado parcialmente ao tratarmos da desigualdade mostrada no vídeo e como o ter ou não  dinheiro, separa as pessoas e as torna desiguais.
            Creio que o cinema é uma ferramenta mobilizadora, que prende a atenção e traz pra ordem do dia questões que muitas vezes não refletimos em nosso cotidiano. As imagens, sons, percepções geradas através do vídeo, são elementos riquíssimos pra discussão em sala de aula. O cinema é interdisciplinar e como tal tem que ser trabalhado, para que não haja fragmentação da realidade, já que muitos aspectos se relacionam em termos de conteúdo, como foi o caso de “Ilha das Flores” de Jorge Furtado utilizado nessa aula. 

Um comentário:

  1. Poderias ter explorado os significados das falas dos alunos. O que foi visto, pelos alunos, como desigualdade e exclusão no video...
    Abraços, Rciardo

    ResponderExcluir